março 04, 2014

A carta

Reabriu o envelope pela milésima vez, pegou o papel já amarelado e desgastado pelo tempo, mas ainda perfumado, perfume que só ela sentia.
Nunca antes eu havia notado como a ausência de palavras poderia ser também tão significativa.  Aquela era a ultima carta recebida, em resposta a ultima enviada.
Francesca lhe escrevera sobre seu amor, em palavras bonitas, letras desenhadas, no papel pequenas flores azuis e o perfume de rosas que tantas vezes embriagara de amor, Antonio.
Talvez por todas as lembranças que aquele envelope lhe trouxe se explique a falta das palavras e, todo o sentimento que aquele espaço aparentemente vazio remetia.
O espaço em branco trouxe o impacto do nada a dizer, porém trouxe também a certeza de que a emoção fora tanta que não existiram no momento palavras bastantes para expressar o sentimento. Como aquele silêncio que se dá após o beijo, após o adeus. Para sempre seu foi a lágrima ultima. Lágrima de quem diz eu te amo, mas... E tudo o que cabe no espaço entre o “mas” e o que puder vir depois. Percebe quanto sentimento pode caber no vazio das palavras?
Não sei quem foram Francesca e Antonio, a carta encontrei em um livro que comprei em uma viagem.  Quem quer que tenham sido me ensinaram quanto sentimento pode caber naquilo que não é dito.

Veneza, Outubro 1902.

Francesca, amada minha.
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Sem palavras.
                                                                                            Para sempre seu, Antonio.




março 01, 2014

(im) Previstos


Nós tínhamos a química e a física exatas, falávamos as línguas do amor, do olhar e até a de sinais. Éramos a matemática perfeita, se somados, multiplicados, divididos ou mesmo subtraídos, resultávamos sempre na fórmula exata. Contradizíamos a biologia, obviamente, por sermos de espécies tão desiguais. E assim, nossos corpos naquele colchão faziam arte. Moderna, contemporânea, barroca.  Contestávamos a astrologia, reescrevíamos a história a bel-prazer e em nossos contos de fadas só existiam finais felizes. Juntos éramos bons até mesmo em meteorologia, pudemos avistar a tempestade que se aproximava, primeiro lentamente, tornando-se um furacão. Nós previmos o vendaval, mas trazíamos dois guarda-chuvas.

fevereiro 01, 2014

Noite adentro, sonhos. Mais nada!


Gostaria de estar dentro de um sonho e nesse sonho dentro de um filme, onde eu pudesse acordar com a frase: "alguns meses depois".
Não foi um sonho.
Abri lentamente os olhos, com medo da luz do dia, e era dia... Mas as cortinas estavam fechadas.
Assim como as cortinas, havia me fechado para o mundo. Na noite anterior engoli o choro, solucei e ardi em dor por dentro. No rosto sequei as lágrimas, desviei o olhar por uns instantes, sorri e pensei: "a noite deslizará sob meu olhar, meus pensamentos cruzarão o céu enquanto eu me perco em busca das respostas certas, ou das perguntas certas". 
Prometi não me colocar mais em situações como aquelas, estas em que se ouve respostas daquilo que se teme perguntar, quando o outro faz uso do pretérito perfeito em todas as suas frases... 
"Eu te amei muito".
Mas,esquecendo-se de tudo aquilo e, do pretérito perfeito, fui feliz enquanto me foi permitido.
Eu sabia que estava ali por vontade e eu gosto de me perder em certos lugares, em pensamentos que voam longe, mas agora estou revendo a mim mesma como se pertencesse a coisa qualquer e não a mim. 
De repente pude assistir os planos que fazíamos à dois e os que ousei sonhar sozinha.
Uma casa na praia, uma biblioteca só minha, um filho, um cachorro.
Um filme num dia de chuva, uma bacia de pipocas, uma xícara de chocolate quente entre as mãos e, nós dois. Acomodada ao travesseiro senti qualquer coisa de saudade daquilo que não concluiu.
Peguei aquele vestido, não sabia bem se o teu cheiro estava nele ou em mim.
As estações do ano e as flores, o vento e as árvores lá fora, a cidade inteira, isso não te faz sentir uma vontade incontrolável de sorrir? 
A mim também. 
Lembro então, das muitas páginas do livro que eu não terminei de ler. Penso naqueles que planejei lermos juntos. Mas ainda há muitos que serão lidos por mim, te encontrarei em algumas personagens e pensarei em você, lembrarei então daquele dia no café, o beijo escondido, lembrarei do passeio na feira, daqueles pequenos momentos em que pudemos caminhar de mãos dadas, dos longos telefonemas, as longas conversa e de como nos entendiamos tão bem e, claro, de como eu me sentia estranhamente livre, totalmente feliz, como uma menina em seu primeiro amor.
Agora eu penso em tantas coisas- 
Penso...
Penso noite adentro olhando as paredes brancas do meu quarto.
Penso  em dias nublados que sempre me deixam saudosa.
E penso também em dias de sol e céu azul.
De qualquer forma todos os meus pensamentos remetem ao nosso primeiro momento, seu sorriso e seus olhos.
Dentro da noite- 
Sonhos. 
Mais nada...    


outubro 31, 2013

Mas se partes, que partas totalmente.

Parou o carro e entreabriu a porta, assim que entrou um nó se fez na garganta, tentaram não discutir durante o trajeto, inutilmente, parece que naquele dia tudo conspirava contra os dois. Desceram na garagem escura, forçaram alguma segurança, algum laço, alguma intimidade. Vans tentativas, todas elas no último ano teriam sido em vão também? Temia que sim.
Dias antes tudo tinha sido tão perfeito e havia tanto amor, olhos, bocas, peles, almas que se reencontraram por brincadeira do destino e aqueles corpos vestiam-se como luva, se entrelaçavam e laçavam num frenético jogo de amar.
Então, sentada ali, meia luz, perguntava-se de onde vinha aquele sentimento de que seria a última vez, beijava como se, despedindo-se de um amor que vai partir, ali, parados naquela estação por onde tantas vezes estiveram e de onde brotavam lembranças e emoções. Não pode conter as lágrimas, que rolavam sem motivo aparente.
Continuaram por mais algum tempo tentando forçar alguma familiaridade, algum motivo pra que estivessem juntos ainda, mas nada acontecia. O nó na garganta não se desfazia e por mais que segurasse o choro algo dentro de si gritava: Despeça-se, esta é a última vez.  O toque do telefone soou como o apito do trem que vai partir, uma, duas vezes e o que vem depois da despedida? Voltou pra casa sem rumo, completamente perdida no turbilhão que lhe passava na cabeça. Voltaram pra casa sem uma desculpa pra dar para a dor que sentiram ao partir, mas cada um colocou sua máscara de felicidade e foi.
Foram um do outro.
Foram-se um do outro.
Se foram.
De qualquer modo já não estavam mais. Partiram sem despedirem-se, apitos de trens não esperam o último adeus.
Não estar mais doeu por alguns dias. No primeiro escondeu-se do mundo, tentando incansavelmente fugir de si mesma. No segundo fez greve de fome, no terceiro pediu socorro, percebeu as olheiras, sentiu fome, pouco a pouco foi saindo do buraco onde se enfiara. Não há como esconder-se dentro de si mesma afinal.

Hora de abrir as janelas e o coração, coisas boas hão de vir.

setembro 12, 2013

Menininha...


Tivera um dia daqueles... Daqueles onde todo imprevisto acontece. Não estava feliz nem triste, mas sentia-se realizada. Levantou cedo, com habitualmente vinha fazendo há algum tempo, no entanto, naquele dia sentiu vontade de colocar uma maquiagem, que não chamasse muito a atenção, mas que a deixasse bela, ou a fizesse sentir-se bela.
Um banho, uma roupa que disfarçasse os quilinhos a mais  e expectativa de que algo bom aconteceria. Os dias ultimamente andavam monótonos e sem vida, como se passasse por um filme, mas não contracenasse.
Descobriu naquele dia as cores de um sorriso, sempre fora encantada por sorrisos. Por instantes fez parte do elenco do filme de sua própria vida e, ali descobriu que ainda existem amizades que levam anos para serem descobertas.
Descobriu o segredo da felicidade, poderia contar, se este não fosse tão singular, tão egoísta às vezes. Mas como sempre pensava: Ninguém nunca poderá ser feliz por você e daí nasce um pequeno egoísmo, aquela vontade de ser feliz, a qualquer preço.
Menininha, eu estou tímido! E o sorriso se foi sem promessas de voltar.
Talvez esteja ai o grande segredo... Não prometer e não esperar.
O sorriso encantador tornou-se tímido. Ficou em dúvida se agradara. Geralmente lê bem o olhar, mas este era desviado quase sempre e o riso tímido tomava conta.
Foi diva, egoísta e feliz por alguns instantes. Daqueles que marcam e ficam nas lembranças.

Eu estou tímido!

julho 26, 2013

Das tantas verdades de uma mesma história...

(Para ler ao som de hey Jude, porque toda história tem uma trilha sonora)

Camila ainda era jovem quando sonhou tudo isso...

Sempre sonhava com trens, ônibus ou qualquer coisa que lembrasse partidas, não sei o porquê, mas nunca tinha o prazer de sentir-se chegando a algum lugar,  estava quase sempre de passagem ou indo embora e raramente levava bagagem, sua jovialidade tinha “espirito livre”.
Dessa vez desceu do ônibus, era a parada final. Fazia frio e ela tinha nas mãos um casal de bonecos, um cobertor, uma almofada e alguns pertences pessoais. Desnorteada olhou para todos os lados buscando um rosto familiar, quando uma mão desconhecida lhe tocou os ombros.
Dali em diante tudo era desconhecidamente familiar. A cor do táxi  o trajeto, as luzes daquela cidade que ao mesmo tempo em que a acolhia lhe causava náuseas de um pavor estranho. Medo de estar ali e não corresponder às expectativas. Tentava sorrir, contava um ou outro acontecimento da longa viagem que a levara até ali.
Mal sonhara o motorista daquele táxi e o estranho que a acompanhava, que aquela viagem durara 28 anos.
Fim da corrida, ofereceu-se cordialmente a pagar, afinal sentia-se alheia àquele lugar e, no fim todo mundo pensa que dinheiro compra, paga, justifica e ameniza tudo. Até aquele sentimento estranho.
A mesma rua de pedras, o mesmo portão, fazia frio.
Ela e o estranho se olhavam como quem quisera entender o que acontecia ali, olhavam-se como quem nunca tinha se visto antes e ao mesmo tempo como se fossem velhos conhecidos que se encontram num café qualquer, por acaso.
Surpreendeu-se quando foi conduzida porta adentro e viu que um quarto lhe esperava, com cobertas recém-lavadas e toalhas secas. Fazia muito frio, principalmente dentro dela. Coração quase nem batia e as palavras embargavam-se.
Quanto melhor recebida era por aqueles que aos poucos deixavam de ser estranhos, mais envergonhada sentia-se.  E um vendaval de pensamentos preenchiam as horas. Estranhamente ela não desejava ir embora.
Surpreendeu-se mais uma vez quando notou que havia sido traçado um roteiro para sua estadia e havia uma escala para que mesmo entre estranhos ela nunca se sentisse só. Já naquele tempo mesa farta era sinônimo de boas vindas. Não foi diferente.
Como aquela noite foi longa. Fechava os olhos e todos os julgamentos que fizera não faziam mais sentido, era tudo “novo” e “diferente”.
Abraçou sua boneca, colocou sobre as outras a coberta que lhe trazia o cheiro familiar de casa e dormiu sem sequer sonhar.
Os dias foram passando e agora se sentia em casa, era como se conhecesse aquelas pessoas há anos, e conhecia. Os laços de sangue são fortes e ainda que não exista a mínima convivência eles predominam.
Dois dias e não queria nunca mais sair dali. Um lugar onde toda simplicidade tornava-se amor e onde o brilho do ouro não valia mais que o brilho de um sorriso ou de um olhar.
Incrível como se pode aprender tantas lições em gestos tão pequenos, a simples escolha do cardápio do jantar era motivo para reunião de família e discussão das preferências de todos. A ida ao supermercado, o planejamento das atividades do dia seguinte, o cheiro do café de todas as noites...
Incrível como que a gente encontra quem se pareça tanto conosco, como se tivéssemos vivido uma vida juntos, quando na verdade havíamos nos visto duas vezes em 14 anos. Mais incrível ainda são as diferenças que nos tornam tão iguais.
Laços de sangue, de amor... Vida que ata e desata nós, depois cria laços. Que prega peças e te põe em lugares inesperadamente inexplicáveis.
Não consigo descrever a simplicidade daquele amor contagiante. Mesmo daqueles que pouco falava, contagiavam com uma vontade de viver que há muito eu perdi.
Café pra aquecer o frio, piadas e entre um assunto e outro se acaba conhecendo o outro lado da história. Toda história tem pelo menos duas versões. Então todos os meus medos, dúvidas, mágoas, receios foram pouco a pouco indo por terra, num clima tão descontraído... Entre um café e outro aquecia-se do frio e esquecia-se as mágoas. Todo mundo sempre tem uma razão. Ainda que singular. A primeira lição é que nada é por acaso, se você entra num trem e desembarca em determinada estação é porque existe um propósito, ainda que desconhecido. Mais um café e desvendava-se um passado que antes fazia tanto mal e nenhum sentido. Como eu já disse, todos tem as suas razões.
Segunda lição? Qualquer tipo de luxo é dispensável onde existe amor.
Uma frase pra lembrar pra vida toda? É apenas um bem material, temos que aprender a desapegar...
Sei que é uma simples frase, mas num contexto no qual eu estaria revoltadíssima, um sorriso me diz: Tá tudo bem... E completa com essa frase.
Estive diante de pessoas que sabem mesmo construir castelos com as suas pedras. Que sabem sorrir perante o desespero, que sabe dividir o pouco que se tem. Que carrega um livro na bolsa, um sorriso nos lábios e muito amor no coração. Que tem esperança, que tem fé e que vai à luta.
Não que eu nunca tenha conhecido pessoas assim, mas é que quando só se ouve metade da história, surpreende-se com a outra parte.
De brinde um menino “pegador” que em cinco minutos me adotou como tia, que tinha amor nos olhos e no coração...
Queria ter podido, tido o direito, o prazer de lhe dizer mais vezes: Ficou lindo.
Quero te dizer que agora eu sei que o maior bem que se pode deixar é o amor verdadeiro e ele materializa-se em bons frutos.
Voltei com a bagagem lotada. Encontrei estranhos e deixei amigos.
Voltei com lições que ninguém pode tirar de mim.
Mas eu queria, como eu queria, ter estado mais vezes por perto pra dizer: tá lindo!



julho 12, 2013

Brinco de pérola

Para ler ao som de “Bem te vi” (Paulinho Pedra Azul)



Fernanda deu um “pause” na vida, naquela manhã de inverno se deu ao prazer de “desaparecer” por algumas horas.  Normalmente iria para o trabalho, como faz todos os dias. Não naquele.
Entrou no trem, mas mudou o destino e pensou: Somente por duas horas...
Ao chegar ao seu destino, bateu naquela porta já tão conhecida... Fazia tanto tempo que quase nem se lembrava mais. Da porta, do cheiro, do gosto, das cores.
Foi recebida por um sorriso e um olhar de acalento, mas foi acalentada por um abraço de paixão. Em poucos minutos botões abertos, respiração ofegante e sem nenhuma palavra a saudade mostrava-se.
Mistura de carinho e fúria, uma razão animal, empurra, acaricia, morde e beija... Leva aos céus.
Têm sentimentos que mesmo com o passar de muito tempo, vêm à flor da pele, no primeiro toque. E disso Fernanda ainda não tinha esquecido.
Essas segundas feiras raramente se repetem na vida de alguém. Este trem quase nunca faz esse trajeto.
Duas horas estenderam-se por mais alguns minutos, mais um sorriso, mais um olhar, daqueles que não se esquece.
Uma xícara de café, uma música para lembrar.
De volta à realidade, um sorriso abafado nos lábios. Uma felicidade passageira, tão passageira como quem perde um brinco de pérola dentre lençóis e torce para que encontrem e guardem em algum lugar que faça lembrar... Do cheiro do café ou da melodia da música, do trajeto do trem. Como quem espera  que agosto chegue logo.


http://www.youtube.com/watch?v=MOOFP2y9W30

julho 01, 2013

Eu nunca vou soltar a sua mão...

Sonhei com uma escadaria, notava a presença de muitos olhares voltados pra mim, eu, sentada no banco de um carro, acompanhada de alguém que notoriamente se orgulhava muito de estar ali naquele momento. Segurava um Buquê de Flores, claras, singelas... Vestia um vestido branco tão lindo, tão simples, tão puro como a minha inocência naquele momento, sapatilhas nos pés foram as únicas exigências que eu me lembrava de ter feito.
Eu lembro bem, já conhecia o amor, o carregava em meu ventre e por alguns momentos já havia visualizado suas formas e escutado as batidas do seu coração.
Desci do carro, meus pais me olharam extasiados, quase todas as pessoas que eu amava estavam ali, mas a escadaria era só minha naquele momento, minto. Minha e de mais três  anjos também vestidos de branco. Lindas... Cada uma com seu objetivo, mas nenhuma mais ou menos importante que a outra.
Passo a passo eu descia as escadas, alguém tratou logo de fechar a porta, como se faz tradicionalmente nos casamentos. Eu sabia de muitas coisas naquele momento, mas ao mesmo tempo eu não sabia de nada. Todos aqueles que eu carinhosamente convidei para abençoarem a minha decisão já tinham entrado, escolhi eu mesma a música que os emocionaria.
Antes que fechasse a porta eu pude fitar lá no altar um alguém ansioso, mas certo daquilo que estava fazendo.
Então, eu não me lembro de mais muita coisa, passo a passo, conduzida por meus pais, precedida por um dos anjinhos lindos de vestido branco, ao som da música “Eu sei que vou te amar” tudo o que eu conseguia ver era aquele sorriso lindo à minha espera no altar. Eu sempre amei aquele sorriso.
Como ele estava lindo, caminhou até mim, fez menção de agradecer e cumprimentou meu pai, que me entregou a mão a ele como quem solta um pássaro e diz “voa”.
A partir dali eu não voaria nunca mais sozinha, seus olhos me juravam a cada instante.  Eu me lembro  muito bem da cerimônia e dos conselhos que o padre nos deu, esqueci de mencionar que eu tinha 16 anos, um rostinho angelical. Idade e aparência que aparentava causar mais pena que felicidade naqueles que à dedo eu escolhi para partilharem o momento que eu jurei ser único na minha vida. Prometi muitas outras coisas também, algumas que a imaturidade, o tempo, as circunstâncias e a falta de experiência não me favoreceram a cumprir. Sinto muito.
Muito nervosa a voz mal saía, a aliança eu coloquei na mão errada e a voz embargada me impedia de gritar aos ventos que SIM! Eu aceitava, de livre e espontânea vontade, apesar de todos acharem loucura. Imaginem só! 16 anos, grávida de 3 meses... Foi um falatório que eu adorei! Já gostava de causar polêmica.
Não posso deixar de mencionar a minha irmã, com seus lindos cachos feitos em casa e as flores... Chorou o percurso todo até o altar, acho que era de alegria em ficar com o quarto só pra ela.
Mas eu me lembro de alguns rostos, do meu sogro, por exemplo, que sempre parecia me olhar com um ar de reprovação, da minha sogra, casando o segundo filho, esperando o primeiro neto, dos meus pais, quase que arrependidos e querendo me levar de volta pra casa onde até horas antes estava a minha escova de dente no banheiro, minha mãe chorou quando não a viu mais lá. Meu pai “Durão” estava lindo, mesmo com o terno abotoado do lado avesso, os padrinhos todos cheios de pompa, lembro-me do sorriso no rosto de cada um deles ao vir me cumprimentar.
Era maio, já estava muito frio, aquele ano fez um frio atípico, parece que o vento anunciava que a partir dali a vida não seria fácil. Aliás, chegar até ali já não tinha sido, como esquecer das minhas cunhadas que enfeitaram a igreja, já que não poderíamos gastar com floricultura?  
Eu não me lembro mais a música que nos conduziu do altar á uma vida nova, á uma vida nossa, os cumprimentos, as fotografias, pagas à muito custo. Na época, tradicionalmente os convidados iam até a casa dos noivos para ver os presentes... Pra nossa sorte, era na rua de trás da igreja em que nos casamos.
Um jantar simples, compartilhado com os amigos mais queridos e com a família, eu não via a hora de me ver livre daquele vestido!
Levaram-nos pra casa e ali eu tive um medo tão grande de não saber como e o que fazer pra dar certo. E como eu errei! Acertei também.  Os meses passaram, nosso bebê nasceu, as dificuldades iam e vinham e nós já estávamos mesmo acostumados. Mais três anos e tivemos a nossa princesa, nada menos dificultoso, mas éramos uma família feliz, podia ver meu filho brincar na areia, o vi dar os primeiros passos aos 8 meses, aprendeu a andar de bicicleta sozinho,  Maria era o xodó da casa, ainda é!
Alguns passos em falso, algumas atitudes erradas sei que de lá até aqui 12 anos se passaram, e eu posso dizer com toda a certeza do mundo hoje, SIM! Eu aceito!
Não sou muito de escrever sobre as pessoas que amo, tenho medo de frustrá-las, pessoas sempre criam expectativas e eu sou mestre em quebrá-las, mesmo que sem querer. Enfim, não posso deixar de falar sobre ele, aquele que me esperou no altar, segurou a minha mão, me sorriu para me dar a segurança de que eu não estava sozinha e nunca mais soltou. Mesmo nos momentos mais difíceis, mesmo quando eu não mereci, mesmo quando eu quis voar sozinha.
Esse homem com jeitinho de menino me amou cada dia desses 12 anos, me cuidou mesmo quando eu fiz besteira, ele nunca, nunca soltou a minha mão.
Dizem que algumas coisas são predestinadas, não sei... Só sei que em alguns casos duas pessoas se completam, se fundem, se tornam tão iguais que em certos momentos não se sabe mais onde começa um e termina outro, se tornam 3, 4 quem sabe 5... Criam laços, ganham amigos pra vida toda, ou só amigos pra lembrar na vida... E quando sentam no sofá da sala para relembrar o que já passou ainda conseguem rir de tudo.
Repito, a nossa vida não foi fácil, mas ele nunca, em momento algum deixou de me apoiar e se hoje eu sou uma pessoa um pouco melhor é porque eu o encontrei em meu caminho, ou ele me encontrou, vai saber.
E há quem diga que amor de carnaval só dura 4 noites... Naquele carnaval eu encontrei o homem da minha vida, aquele que passou por todas as dificuldades e tormentas comigo, sem nunca me julgar, culpar ou abandonar, depois daquele 11 de março nós nunca mais nos largamos, mas nada foi um conto de fadas, aprender a viver com alguém é muito difícil, exige que muitas vezes nos anulemos em virtude do outro, mas como  vibramos com uma vitória dele, uma vitória que também é nossa, sempre.
Era pra ser um sonho meu, sentada no carro olhando as escadas, mas é um sonho nosso, as subimos juntos e degrau por degrau chegamos aqui, ainda juntos.
Eu quero meu amor, te poder jurar tudo de novo, não lembro a ordem, nem as palavras, eu mal consegui repeti-las.
Mas hoje, depois de tudo. Eu juro te amar até o fim.

E pra quem pensa que amor não basta, eu digo que sim! 

junho 01, 2013

Mais um ano sem o seu riso...

Sempre que me lembro da tragédia que foi a sua morte, não penso nos possíveis diagnósticos, nem mesmo no choque inicial que foi ouvir, às 3:00 da manhã "Kate a Duda morreu" ou no choque posterior que foi sentir a sua falta dia pós dia e em todo sofrimento que sua partida ainda traz. Em vez  disso penso me vejo relembrando os momentos corriqueiros da nossa vida juntas, seu riso fácil, seus conselhos imponentes, seu jeito "eterna menina" de ser. Momentos que passaram despercebidos e que possivelmente jamais seriam rememorados não fosse a fatalidade de te perder tão jovem ainda.
Um consolo para nós é que sabemos que você se foi fazendo o que mais gostava: VIVENDO! Hoje, após dois anos, eu posso imaginar como foi o seu dia naquele dia... Fez as unhas, sempre sozinha, deu um retoque na sobrancelha  tomou seu costumeiro banho demorado, catando cada fiozinho de cabelo que ficasse na sua pele antes de se enrolar na toalha, até seu jeito de se enrolar na toalha era singular... Arrumou os cabelos, passou horas fazendo a maquiagem, escolhendo a roupa, o sapato... Sempre alto. Tá, eu sempre duvidei do seu problema no joelho, eu com metade da dor que você dizia ter, não pararia uma hora naquele salto, você bailava a noite toda, aliás, você bailava a vida... 
Suas unhas vermelhas, seu cabelo fino e cheiroso, seu perfume inconfundível... Eu sempre disse que suas coisas tinham o seu cheiro, por isso talvez, eu não consegui ficar com nenhuma peça sua pra mim, sentir seu cheiro todos os dias seria tortura... Mas eu vi o seu vidro de perfume na casa da mãe, viajei aos meus 13 anos, sim eu passava escondido... No meu íntimo eu sempre quis ser Duda, a destemida! Hoje quando dizem que você se foi, mas me deixou no seu lugar (pelas manhas e manias) eu me sinto é orgulhosa. Quisera eu, apesar de todos os seus erros, ter na minha vida a metade dos seus acertos, ter um terço da sua coragem, da sua garra e determinação.
Esssa noite eu perdi o sono, temos mais coisas em comum que eu poderia supor, mas enfim, perdi o sono e peguei o celular para olhar que horas eram e se faltava muito para o dia clarear, vi a data e consequentemente o mês. Comecei a chorar.
Que ironia do destino! Deus te levou no mesmo mês em que minha mãe nasceu, pior... Um dia depois... Acha pouco? Sua primeira neta nasceu no mesmo mês. Ela vai completar um ano e é linda, eu sempre quis que ela se parecesse com você, mas não precisamos de motivo algum para te lembrar.
Eu queria tanto que você ainda estivesse aqui... Tem gente precisando de você sabia? Do seu extinto leoa de ser mãe e proteger os seus.
Eu queria tanto voltar naquele dia, maldito dia que eu não me
despedi de você com um abraço, mesmo sem dizer, você sabe não é lá muito meu tipo, mas eu queria que você sentisse que eu te amava muito. Eu queria ter comprado uma rosa e te dado, nas suas mãos, não naquele maldito caixão. Aliás, passamos o batom errado em você, desculpa, eu sei que você preferiria o vermelho.

Eu queria saber como eu faço pra enviar essa carta pra você.

Eu queria você de volta.
Luto e saudades eternas.

maio 12, 2013

Quem sou eu? Decifra-me ou te devoro...


Eu sou assim, meio síndrome de Gabriela, meio metamorfose ambulante... Bipolar e depressiva diagnosticada e medicada... Passei meses de colchão e lágrimas. Descobri que as dores internas da gente ninguém nota. Se eu tivesse tido um câncer terminal essa cambada de hipócrita teria vindo me visitar pra sentir menos remorso depois. 
Já tentei me matar, acho que não era pra ser, mas se eu tivesse conseguido teriam ido ao meu velório, chorado e dito: "era tão boa" "parece que está dormindo" e depois da obrigação cumprida, dividiriam o valor de uma coroa de flores e iriam pra suas casas, com  a consciência tranquila... Ah! Colocariam uma nota no site oficial da faculdade que eu causei tanta intriga nos últimos 4 anos... 
Não tenho medo de viver, mas nos últimos tempos não tenho sido muito eu... Tenho poucos amigos, raros e caros... Se você faz parte deles não tenha dúvidas eu amo você.
Não sou religiosa, mas grito ai meu Deus toda vez que a coisa aperta. Meus filhos são a minha vida e nos últimos 12 anos todas as decisões que tomei foram em função deles. Cara! eu já fiz muita merda nessa vida, mas como eu cresci. 
Tô mais perto dos 30 que dos 20 e me sinto renovada, apesar dessa doença que me tomou um ano todo, talvez 4... 
Não sou normal, não sou comum e até hoje não descobri o que é essa tal de felicidade... Na minha teoria ela é feita de alguns momentos raros e custa caro pra caramba. Também aposto que a humanidade inteira é triste e passa a vida procurando algo que nunca encontra. 
Eu acredito que exista uma espécie de Nárnia por ai, não faz sentido passarmos por aqui pra agradar ou desagradar, brilhar ou passar despercebido e só! Todos os dias eu fecho os meus olhos e viajo para um mundo só meu. 
Sou leitora, "escrivinhadora", não sou fútil, nem fresca! Sim eu mato barata... canto alto a música com a letra errada, dou gargalhada nas horas mais impróprias, conto piada sem graça e fico braba se você não rir, trabalho 12 horas por dia se preciso for, cozinho, faço doces e faço doce... rsrs, sou uma mulher completinha e completamente diferente de qualquer uma que você já viu por ai.
Tenho poucos arrependimentos, um deles é não ter escutado mais os conselhos de um amigo muito especial, mas o último que ele me deu foi: Trace metas e tenha planos... Foi mais ou menos isso, o que só confirmou a minha teoria de que tirando amor de mãe (algumas) o resto é pura conveniência... 
Quer saber, um dia eu boto duas camisetas numa mochila e saio descobrir a que vim, mas enquanto não posso, informo que estou dando a volta por cima, sacudindo a poeira e tentando de novo.
Sempre ouvi as pessoas me dizerem que eu sou (era) guerreira, que tinha foco, garra, fibra... Hoje eu tenho uma necesserie de remédios controlados na bolsa. Como eu cheguei aqui? Agora eu sei que eu mesma coloquei cada tijolinho do muro que me separou do mundo por um pouco mais de um ano... 
Eu ainda não achei a minha força, mas quando eu vi a foto da minha filha num voo livre do sofá ao chão, lembrei que eu também posso voar, eu tinha tantos planos pra voar alto, eu tinha tanto potencial... 
Nesse momento eu tenho força de vontade... Espero que me baste... Queria ter fé, mas a gente vê tanta injustiça nesse mundo que eu guardei a minha em algum lugar... 
Do tempo que perdi, sinto muito... Das pessoas que perdi, sinto mais ainda, por eles... 
Eu não tenho medo de ameaças e adoro um desafio então, cuidado onde pisa, não vem pensando que me conhece que você só sabe de mim o que eu permito que você saiba. 
E quando eu decido que eu quero uma coisa, eu vou à luta e consigo, não desisto... Não desistirei mais... 
Das pessoas que magoei, algumas merecem que eu peça perdão, outras são como diz minha avó: "Por fora bela viola, por dentro pão bolorento"...
Cabe a você decidir se sou merecedora ao menos do seu respeito, cabe a mim os meus erros e acertos. 
Sem mais.